quarta-feira, 8 de abril de 2009

O QUE ENSINAR? (ARTIGO 003/2009)



















"É necessário toda uma aldeia para educar uma criança." (ditado africano)

Estamos em tempo de muitas mudanças, acompanhadas de grande velocidade.
Os grupos que promovem o lazer, empenham-se cada vez mais em trazer novidades para entreter, em trazer comodidades cadavez mais instantâneas, em promover ilusões como coisa real.

Diante de continuada exposição para crianças e jovens, sem a informação clara do preço que se paga, o prejuízo torna-se maior e iniciam-se os conflitos na família e no meio social.

Quando se atinge o sentimento em demasia, existe a facilidade em se perder a razão.

Faz-se necessário e urgente a educação, como ferramenta de mudança para alcançar o equilíbrio.

A pergunta que se faz é o que ensinar e como ensinar.

Parte do texto abaixo, direciona também nesse sentido.


Globalização: Um jeito novo de se viver
Por: Gelci Agne

Globalização: Um jeito novo de se viver na família, na escola e na sociedade.
Que pedagogia pode nos amparar?
Vivemos o tempo da globalização. É possível tomar café brasileiro, numa xícara chinesa, vestido de algodão indiano, fumar charuto cubano e visitar um show-room ou tratar de negócios num show business norte-americano da varanda de casa, afirma Edgar Morin. O que acontece no Japão imediatamente toma-se conhecimento no Brasil. Ou ainda, é possível tomar café da manhã no Brasil, almoçar nos Estados e jantar na Europa. Velocidade semelhante à aéreo-dinâmica acontece nas informações, seja por meio de satélites, de ferramentas virtuais, áudio-visuais ou outros sistemas ultramodernos similares, os quais a informação neste momento, ainda não nos oportuniza.
Muito embora a informação ocorra entre todos os continentes quase que instantaneamente, a formação dos seres humanos, segue a passos lentos, bem como o acesso aos espaços de efetiva formação humana. Os recursos tecnológicos, a telecomunicação, a mídia, os avanços científicos enfim, adentram todas as áreas do conhecimento humano e, permitem operações até pouco tempo inimagináveis.
O mundo ficou menor. Encurtou-se as fronteiras físicas, mas infelizmente, aumentou-se o distanciamento entre os seres humanos. A diferença social é gritante no mundo inteiro. Os países mais ricos, localizados acima da Linha do Equador oportunizam melhor qualidade de vida aos seus habitantes, enquanto nos países mais pobres, ao Sul da Linha do Equador, a injustiça social deixa à margem a maior parte de sua população excluída do direito a uma vida digna.
A vida de alguns tem mais valor que a de outros. Se de um lado a Ciência avança ao perscrutar caminhos novos, como as células tronco, por exemplo. Pergunta-se: para a vida de quem? Quem de fato tem acesso à saúde digna, garantida na Constituição Federal?
Globalizou-se a miséria paralelamente e, pela lógica do sistema capitalista a exclusão social faz parte do processo de evolução, contando que o lucro de alguns poucos seja garantido, não importa se às custas da miséria, da doença e da fome de muitos seres humanos ou da destruição da Natureza.
Neste cenário, estabelece-se um aparthaid dissimulado. Como não bastasse a profundidade das feridas causadas no tecido social, além do estresse da competitividade, produz ainda a intolerância e o desrespeito às diferenças. Daí advém o preconceito social, racial, aos idosos, às pessoas com necessidades especiais, ou com HIV, a questão de gênero e a xenofobia entre outras.
Vivemos um mundo da plasticidade. O plástico, o descartável, o bonito, o show, muitas luzes e fogos para iluminar a escuridão que adentra as relações humanas, onde a plasticidade necessária, não há. Ao contrário, o diálogo, a solidariedade e o afeto, estão afetados pela indiferença e o individualismo. O ser humano vem perdendo sua essência, em detrimento à aparência. O ‘parecer-ser’ inda que efêmero, vem fazendo a cabeça de jovens e adultos, indistintamente. Se a cirurgia plástica alcança quase que a eternidade da beleza física, não se percebe os mesmos avanços na construção interior, nas relações afetivo-emocionais e sociais.
A desvalorização da vida e o esvaziamento do ser, cederam espaço à insatisfação pessoal e por conseguinte, à droga e à violência urbana.
Um mundo onde todos têm que ser bem sucedidos e logo, porque todos têm pressa e muita pressa, o trânsito tornou-se o maior vilão. A cada dia deixa um rastro de sangue ao ceifar vidas e produzir uma multidão de mutilados, entre os quais, as maiores vítimas são os jovens.
Neste espaço de convivência social, a falta de tempo para as coisas simples da vida familiar e social, associado à influência que os meios de comunicação provocam pela alienação em decorrência da falta de seletividade ou reflexão sobre como os retalhos estão sendo costurados, tem gerado uma sociedade de ânimos exacerbados, doenças, pessoas insatisfeitas e muitos infelizes.
Este é o mundo que aí está. Um mundo de mudanças radicais na família e na sociedade. A escola como peça integrante deste sistema de relações sociais, à medida que recebe também emite influências. Esta reflexão no entanto, não tem a mínima intenção de adentrar pela questão político-educacional do sistema de ensino em vigor no estado ou no país. Despretensiosamente, o desejo aqui é um simples repensar da prática pedagógica, refletir sobre as limitações sentidas no cotidiano do contexto escolar, diante dessa avalanche de mudanças. Nesta perspectiva, buscar respostas à pergunta que não quer calar: qual a Pedagogia possível para dar suporte aos medos, as frustrações e a desesperança dos educadores e educadoras?
Qual a Pedagogia capaz de atender os anseios e necessidades dos educandos e educandas? E ainda ao mesmo tempo, provocar a realização da função social da escola como agente de transformação social? Qual a Pedagogia capaz de libertar os sujeitos das amarras desta história concreta que vai se escrevendo no dia a dia de nossa sociedade? Primeiro, para escrever conscientemente, a história no dia a dia, há que fazer-se a leitura deste mundo e compreendê-la com todas as suas imbricações, como construção coletiva. Segundo, de posse desta leitura, perceber-se como parte integrante desta história que está sendo construída com ou sem a sua participação e, então como sujeito, perguntar-se: Que história escrevo com o meu trabalho diário no convívio com os demais atores sociais que fazem parte deste contexto?
Inquietações, angústias, responsabilidades... e, em meio a tantas incertezas, a certeza: faz-se necessário uma dupla libertação: a liberdade no fazer-que-pedagógico e um fazer-pedagógico comprometido com a libertação dos sujeitos sociais. As buscas de respostas teóricas direcionam o pensar para a Pedagogia da Libertação e, seus pressupostos apontam para libertação da Pedagogia.
Seria então, a Pedagogia Freireana a direção que esta bússola indica?
Referencial teórico: Freire, Paulo. Pedagogia do Oprimido, RJ, Paz e Terra, 1987. ______________. Pedagogia da Autonomia, SP, Paz e Terra, 1996.

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